VASCO ARAÚJO
DEZEMBRO 2013

01

FICHA TÉCNICA
da série Act without words, 2013

dimensões variáveis


 

Vasco Araújo foi o terceiro artista convidado a realizar uma obra especificamente para ser difundida por email pelo EMPTY CUBE. Aqui, trata-se de uma fotografia que faz parte de um projecto fotográfico inédito mais abrangente (a série “Act Without words”, 2013, impressão digital sobre papel).
A imagem que Vasco Araújo apresenta tem como referência mais directa uma peça de teatro com o mesmo título, da autoria de Samuel Beckett. Essa peça, representada por um único actor, tem um acompanhamento musical que enquadra a acção que decorre no palco. É um solilóquio mudo cuja fala é dada à performatividade do corpo do actor em confronto com os objectos que com ele contracenam, expressando diferentes estados psicológicos. A instabilidade, a dúvida, o medo, o espanto ou o sentimento de abandono aliado à solidão desenham um universo interior em que nos reencontramos na nossa condição sisífica de recuperar um estado de permanente queda. Na obra de Vasco Araújo, a condição humana é um estado de vigília sobre o resgate de cada um de nós perante a alteridade, procurando o outro, ou os outros, que dentro de nós se espelham de forma contraditória entre aquilo que somos e o espectro daquele que ansiamos ser.
A fotografia que Vasco Araújo disponibilizou para este projecto é também possuída por uma intensa contradição. O espaço da casa vazia, de soalho antigo e lavado, contrasta com o homem elegantemente vestido que olha para a luz que se desprende de uma hipotética janela. Esse homem, com os pés desnudados, perscruta o mundo que se exibe para lá da sua solidão suportando o corpo abandonado sobre a cadeira, uma outra forma de monólogo do corpo sem timbre, plasmado na superfície de uma imagem quase tão espessa como uma pintura e simultaneamente diáfana como um pensamento que se perde na surdez daquele que persiste em escutar-se a si mesmo.  A imagem representa o instante captado que se perpetua infinitamente, como se algo estivesse prestes a precipitar-se sobre aquele homem encapsulado numa melancolia cinemática e eterna.


João Silvério
2013