IGNASI ABALLÍ
13 SETEMBRO 2013

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FICHA TÉCNICA
TRÊS HORAS DE LUZ
Madeira e velas
Dimensões: 320x320x320


 

Uma sala e uma caixa de luz.
O projecto que Ignasi Aballí concebeu para esta edição do EMPTY CUBE abre diversas perspectivas sobre o seu trabalho. Uma primeira aproximação a essa rede de conexões encontra-se no título desta obra efémera: “Três Horas de Luz”. O tempo, na medida exacta de três horas, e a luz, material que o autor tem explorado através de trabalhos em que usa a fotografia, o vídeo ou a luz natural, como numa das suas primeiras obras, intitulada “Luz (seis ventanas)”, de 1993.
Por outro lado, este título remete para uma certa ausência de actividade, interrogando-nos se algum acontecimento, ou alguma acção, ocorre sobre a presença da luz, que pelas suas características dará a ver algo ou fará incidir o nosso olhar sobre um determinado espaço ou um objecto iluminado. Uma outra leitura pode declinar a nossa atenção se pensarmos no estado de vigília, tendo em conta que o projecto é realizado à noite, no interior de uma galeria onde se encontra um segundo espaço de exposição, a construção arquitectónica que define uma das premissas do EMPTY CUBE: um espaço limitado.
Regressemos de novo ao título, como um enunciado deste projecto, e à sua estreita ligação com a sua duração, pré-definida como uma apresentação única, durante umas quantas horas (três, neste caso) ou minutos de uma noite. Se observarmos com atenção a obra de Aballí confrontamo-nos, sob formatos diversos, com uma reflexão sobre o quotidiano e a temporalidade que o suporta. Uma breve acção é já em si mesma uma relação entre o processo de fazer e a formulação do pensamento. Como uma deriva, selectiva e fragmentária, que se pode materializar, por exemplo, numa listagem de nomes que se inscreve numa métrica alfabética ou funcional, questionando de forma subtil estatísticas ou movimentações humanas que trespassam o mundo que conhecemos, muitas vezes, em diferido.
No presente projecto, Ignasi Aballí reduz a sua intervenção ao mínimo possível. Contudo, o seu processo de trabalho conduz a uma profunda alteração, em termos de função e de forma, do espaço temporário que se encontra dentro da galeria. Essa acção vai convertê-lo numa caixa-ecrã onde uma imagem vai sofrer uma mutação contínua durante três horas. É esta transformação, marcada pela natureza do material lumínico - as velas acesas no interior da caixa/contentor de luz - que vai determinar o tempo do espectador em cada momento que a imagem se vai desenvolvendo no tempo pela perda da sua intensidade. A estrutura do EMPTY CUBE, inacessível como espaço interior de exposição, é então assumida como uma caixa-ecrã. Este ecrã ocupa o lugar do que fora anteriormente a porta da estrutura e ilumina e reconfigura o espaço da galeria como se este fosse sujeito a um crepúsculo natural, como se o espaço fosse sendo contraído pela redução dos seus limites, cada vez mais difusos.
Esta acção, irrepetível, mesmo que seja eventualmente reconstituída, faz um apelo subtil ao devir, a cada infra-instante a que assistimos, e inexoravelmente mede a nossa presença enquanto seres existentes perante uma imagem em aparente movimento, sob um pensamento cinematográfico, durante as últimas três horas.

João Silvério
Setembro 2013